quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Efeito Sanfona

Projetos. Sonhos. Planejamos e traçamos aquilo que entendemos como nosso futuro ideal. Somos tão especialistas nessa ciência que é projetar o presente ao ponto de criarmos linhas delimitadoras entre o que denominamos "sucesso" e "fracasso". Algumas vezes, por sorte ou esforço, nossos desejos/aspirações estão indo bem, estão no caminho correto, esperam apenas por pequenos detalhes para que possam ser finalizados/realizados. Nesse caso, geralmente nós, os responsáveis pela implementação de tudo, dizemos que é apenas uma questão de tempo para que todas essas vontades se concretizem, para que possam finalmente serem realizadas; para que o objetivo de nosso "trabalho" deixe de ser sonho e se torne realidade. As vezes até temos a razão, e em um futuro não tão distante assim tudo dá certo e "vivemos felizes para sempre". Outras vezes acontece o "Efeito Sanfona". De repente, aquilo que era detalhe, que parecia ser fácil, que com quase toda certeza iria dar certo, tão certo que poderia até ser desprezado em uma análise preliminar, dá errado. Faltava muito pouco para ficar pronto, mais um "nadica de nada" e cumpriríamos nosso objetivo maior, realizaríamos o futuro ideal. Realizaríamos. Infelizmente quase pronto ainda significa incompleto, inacabado. Como ainda não terminamos nossos planos, ainda temos um pé firmado no lado da linha delimitadora referente ao "fracasso" e nossa esperança de que ainda seja possível arrumar tudo nos estimula a manter o outro pé do lado da linha do sucesso.
Depois de pensar um pouco e não encontrarmos uma solução para o problema, em uma atitude humilde, vamos nos aconselhar com aqueles que julgamos serem mais sábios do que nós, afinal o erro pode ser apenas uma dificuldade de interpretação. Pode ser que tudo esteja certo e nós que não somos inteligentes o suficiente para percebermos isso. Procuramos por ajuda, por algum "profeta" que nos auxilie a contornar esses problemas. Se tivermos sorte, é possível que a opinião dos salvadores da pátria realmente nos ajude e nos surpreenda, e assim possamos tomar um outro rumo para cumprirmos nossa vontade: transformar o 99% em 100%. No entanto, as reviravoltas na vida são raras. Poucos são aqueles que em poucas vezes com opiniões simples resolvem os dilemas da vida real com palavras mágicas. Por isso, mesmo as opiniões esplendidamente salvadoras precisam sim serem analisadas, e com calma. É como dizem: os conselhos bons demais não levam em consideração todos os detalhes relevantes de nosso "trabalho". Além disso, é comum que escutemos deles coisas que já havíamos pensado sozinhos, mas precisávamos ouvir de outra pessoa. Algumas vezes o óbvio, por ser tão óbvio nos confunde, ao menos quando refletimos o suficiente sobre o assunto.
Talvez o pior de tudo é quando nos deparamos com os profetas radicais, quando mostramos a eles nossos planos e indicamos em que ponto aquilo que era quase certo deu errado. Os otimistas olham um pouco e dizem que com alguns pequenos ajustes tudo pode ser consertado. Os pessimistas nem olham e afirmam categoricamente que não há o que possa ser feito, o projeto está condenado.
O mais engraçado é que independentemente da opinião dos pessimistas/otimistas as coisas continuam do mesmo jeito que estavam antes: no limite entre sucesso e fracasso. Porém, nesses momentos críticos a forma a qual lidamos com as adversidades que aparecem faz com que a interpretação dos conselhos desses especialistas determina a nossa tomada de decisão.
As pessoas de pouca fé (ou insistência) tendem a concordar com a opinião dos salvadores da pátria o que é um erro duplo. De fato, aceitar de cara a opinião de alguém otimista de mais pode significar que iremos insistir mais tempo em algum projeto que já deveríamos ter abandonado. Por outro lado, tomar o lado do total pessimista pode nos levar a abandonar algo que realmente poderia nos levar ao estágio sublime que é o da concretização dos sonhos. Por isso mesmo, precisamos refletir um pouco antes de aceitarmos a opinião de qualquer um, otimista ou pessimista. Precisamos ter coragem suficiente para decidirmos se queremos desistir, desencanar, tentar fazer alguma outra coisa, ou então pagarmos o preço necessário para a sanfona inverter o sentido e começar a inflar de novo. Teimarmos tanto, ao ponto de transformarmos o quase no absoluto.