quarta-feira, 14 de abril de 2010

Algumas vezes precisamos ter paciência

Tempo. Vivemos hoje o regime do menor tempo. Tudo o que podemos fazer, deve ser da forma mais rápida e menos deficiente possível. Quer comer, que tal uma Mc.oferta? Quer aprender inglês, que tal um curso expresso? Que tal poupar tempo e esforço para ganhar um corpo perfeito através de anabolizantes/remédios para emagrecer/cirurgias plásticas/enzimas milagrosas, ao invés da árdua dedicação diária que está associada a disciplina das atividades físicas? Boa parte do esforço do homem para modificar a sociedade ultimamente foi para que a vida pudesse ser mais dinâmica. Até mesmo o lento processo da pesquisa científica está em um ritmo acelerado: publique muitos artigos e bem rápido para ganhar logo um bom emprego de cientista!!!!!!!!!!!!!!!
Sendo assim, nada mais natural que esperemos que nossos anseios também venham de uma forma veloz, não é mesmo? Queremos aquele carro logo, aquele emprego pra ontem, aquela mulher pra hoje, a família, bem, essa pode esperar. Se a vida de uma pessoa normal de hoje em dia fosse um coração, seria fatalmente um com taquicardia pois menos acelerado do que isso seria INACEITÁVEL!
O pior, é que não há muito o que se fazer afinal, como para a maioria dos comportamentos de grupo, aqueles que não se adequam são engolidos pelo resto dos(a) amigos/inimigos/sociedade.
O ponto é que nem sempre a realidade se faz no tempo em que esperamos ou precisamos, independentemente de nosso esforço ou dedicação/compreensão. Fato é que para os prazos, os retornos, os feedbacks, a realização do lucro após um investimento considerável, em algumas, e não raras situações, não há nada que possamos fazer para influenciar em qualquer um desses processos.
Mais ainda: existem coisas que não podem mesmo ser feitas de forma rápida. A essência destas coisas está ligada ao fato de que precisam de tempo, e um bocado bom dele para que existam. Exemplos não faltam: como escrever um bom livro sem o devido tempo para revisá-lo? Como pintar uma nova Monalisa sem que tomemos todo o cuidado para reproduzir aquela famosa perfeição de seu sorriso? Como inventar uma teoria que generalize a da Relatividade de forma expressa? Como educar uma criança sem despender um número colossal de horas ensinando esta a como se portar nas mais diversas situações do cotidiano? Como podemos amar? Amor...essa é uma daquelas coisas que tomam tempo...é minucioso, detalhado, preciso, confuso, fantástico, horrível, bom, ruim, prazeroso, desgastante, é legal e chatão. Amar, naturalmente, não pode ser um processo McDonald's. Não existe Fast-Love e talvez isso esteja ligado com o fato de que nessa nossa sociedade não exista muito espaço para o amor: pra que gastar tempo com algo que muitas vezes nos trouxe apenas desgosto? Fato é que de uma maneira generalizada o pessoal tem lidado com o amor assim como com todas as outras coisas da vida que precisariam de um pouco mais de atenção (refeições, saúde, educação dos filhos, etc.) e talvez por isso vejamos que as pessoas vivem muitas vidas em uma só. Exemplos existem. 5 empregos, 4 doutorados, 7 casamentos, 10 namoros, e por aí vai, os números aumentam, porém a qualidade decai substancialmente.
Sinceramente, não acho que os humanos devam retornar para o tempo de antigamente, onde até mesmo para nos comunicarmos entre si precisávamos de dias, às vezes meses. Para encontrar alguma coisa antes da informática, gastávamos uma eternidade olhando num emaranhado de dados ponto a ponto para descobrirmos onde é que a bendita coisa estava. Não, não temos que voltar para 1882. No entanto, é preciso que aprendamos a balancear esses avanços de grupo, essas inovações tecnológicas que tornam nossa vida mais ágil e rápida, com os fenômenos que ainda necessitam, e graças a Deus que são assim, de tempo e dedicação para funcionarem. São eles, amor, família e criatividade, que nos trouxeram até aqui, que cuidaram de nossa raça até hoje, formam a base de sustentação do desenvolvimento dos homos sapiens sapiens. Por isso, precisamos ter paciência para que não sejamos vítimas de nossa própria vitória, possamos unir a busca pelo menor tempo com a dedicação a aquilo que precisa de tempo para existir.